Oestando de S. Paulo, 18.3.2000
salamun
zupan
Tomaz Salamun: "O Monstro"
Uros Zupan: doçura e corrosão

A força da poesia eslovena chega numa edição em portugues
'Nove Poetas Eslovenos Contemporâneos' tem lançamento previsto para o mês que vem
WILSON BUENO Especial para o Estado

  Uma raríssima oportunidade para que os leitores de língua portuguesa travem conhecimento com o melhor da quase heróica poesia eslovena acaba de concretizar- se com a publicação de NovePoetas Eslovenos Contemporâneos, recem- editado pela Slovene WritersAssociation (Associação dos Escritores Eslovenos), sede emLiubliana. A iniciativa será seguida da visita ao Brasil, no fim domês que vem, de nada menos que cinco escritores daquele país,compalestras e leituras agendadas no Rio, em São Paulo, Belo Horizonte,Salvador, e a distribuição do livro nas principais capitaisbrasileiras.
  A Eslovênia (nâo confundir com a Eslováquia, surgida do desmembramento da Tchecoslováquia) ê um país de imensa tradição musical e literária, com uma cruentahistória- tão assombrosa quanto repetitivamente fracassada- de uma luta semtrégua pela libertação do dômínio estrangeiro,só suspenso emjaneiro de 1992, com a dissolução da ex-Iugoslávia e a conquista de sua independência políticadepois de, pasmem!, 14 sêculos. Recorde sinistro para um povo que,ainda assim, não se deixou abater e nem permitiu que a sua "nacionalidade"fosse pulverizada, mantendose surpreendentemente coeso em tomo de sua língua e de suas tradiçôes. E isso, mais do que tudo, os eslovenosdevem à sobranceira vitalidade de sua literatura, à forçaimperecível desuapoesiaede seuspoetas.
  Só isso bastariapara fazer deNovePoetas Eslovenos Contemporâneos um livro em todos os sentidos necessário, que mais não seja, para atestar o imbatívelpoderdavelhaars literaria em tempo de flores ou de canhôes. Constituir se em amálgama da persona de um povo e tendo como trunfo a sua não menos poderosa indivisibilidade ao longo de sucessivos 1. 400 anos, faz da literatura, de qualquer literatura, mesmo a mais inexpressiva, uma literatura audazmente digna desse nome- à parte a sempre estéril discussão em tomo dos hoje desgastados conceitos de arte engajada versus arte pela arte, tolices a que se furtaa melhor representação literária, sabendo, desde sempre, de seu inócuo propósito.
  De Tomaz Salamun (nascido em 1941), divisor de águas do pósmodemismo esloveno, que ojornal Le Monde qualifica de "O Monstro". não só por sua poesia de um lirismo selvagem e exacerbado, mas muito pelo que o seu talento "extrapola", aojovem Uros Zupan (de 1963),uma espécie de brotação beat, entre a doçurae a corrosão mais ácida, entre especulaçôes "cósmicas" e melancolias on the road, passando pela plasticidade quase canônica de Dane Zajc ( 1929 ) e seu (aflito) pessimismo -entre a náusea eo sonho- ao longo das sucessivas ditaduras impostas ao seupaís, oque há na modema poesia da Eslovênia é, antes de tudo,a palavra rente à origem.
  Uma lírica colada ao "real" feito artefato dequase tátil concreção, não ímportandose esse "real" proceda da recusa a uma tão canhestra quantoevangélica "moral" comunista quanto tenha sua gêneseante a nua perplexidade de estar vivo, postura "existencial"geralmente condenadapelos ditadores de plantão como grave "desvioideológico"...
  Para ficar num exemplo famoso, jáeditor dePerspektive, principal publicação cultural do pósguerra, Salamun, além de ver ojornal cassado e proibido, foi condenado a 12 anos de prisão. O sumário processo contra o poeta, cuja sentençasó não foi executadagraças a exaltadas pressôes internacionais, até hoje envergonha ahistória eslovena -em razão da mediocridade e idiossincrasia com que se mostrou conduzido pelos burocratas da então "socialista" república iugoslava. A ponto de, num só grito, "O Monstro" expressar neste poema traduzido pelo poeta Narlan Matos o seu horror, ferido e cheio de unhas: "Me cansei da imagem de minha aldeia e parti/ com pregos compridos soldo os membros/ do meu novocorpo/ (...) / levantarei minha tenda/ Meu mundo será um mundo debordas afiadas/ cruel e eterno".

Marco- Em Nove Poetas Eslovenos Contemporâneos (já pode ser solicitado pelo e-mail litcenter@mail.ljudmila.org), além de Salamun, Uros Zupan e Dane Zejc, já referidos nesta resenha, o leitor de língua portuguesa poderá conhecer ainda a lírica torturada de Svetlana Makarovic (1939) ; osensualismo homoerótico de Brane Mozetic (1958) ; o entrecruzamento semântico de corpo e idioma do intrigante Boris Novak (1953) ; a busca de novos matizes semânticos de Veno Taufer (1933) ; além, claro, da poesia quase factual de Ales Debeljak (1961), capaz de uma Elegia Bosniana de raro fulgor e, por último, de Kajetan Kovic (1931), considerado um marco da passagem, no pósguerra, da poesiade então à que se queria melhor afim com os novos tempos, naqueles duros anos de uma Eslovênia renascida das cinzas.
  Acrescido de oportuno ensaio sobre a moderna poesia eslovena, assinado por Matej Bogataj, cuja transcrição para o portuguêssofre lamentavelmente de defeitos graves, Nove Poetas pôe, sobretudo,o leitor diante de uma poesia comprometida até o osso com umavoz que,em última instância, é voz e desconcertante traduçãodo inconsciente coletivo de um povo vitimado por séculos de humiIhação e derrota, apesar do nunca esmorecido combate pela cidadania, invariavelmente frustrado. Sem que, no livro ou fora dele, e isso é de se destacar, apoesiaperca, uma só vez, mesmo nos momentos mais frágeis ou vacilantes, sua impetuosa aposta em favor do futuro. Avoz presa na garganta.
  Como no poema de Boris Novak, em tradução de Casimiro de Brito, uma espécie de suma e súmula da antologia eslovena: "Já não há estrela que me ajude. / Olho em frente o céu frio do norte, / o céu do sul foi- me ocultado- / Ascidades brancas/ onde cresci agonizan/ atrás do muro de estrelas dohorizonte/ ao sul. Entre mim e eu cresce uma casca/ cada vez mais espessa./ Só através da névoa/ vejo a sombra da metade morta/de mim mesmo:/ como se não tivesse fundo/ tremo e tateio o meu rostoescuro./ Só na minha garganta me sinto em casa."

Wilson Bueno, escritor, autor, entre outros livros, de "Mar Paraguayo" (Iluminuras), "Cristal" (Siciliano) e do recém- lançado "Jardim Zoológico' (Iluminuras, 1999)


Folha de S. Paulo, 26.3.2000

Escritores eslovenos vem au Brasil

Anelito de Oliviera, especial para a Folha

No ano em que comemora dez anos de separação da Iugoslávia, a Eslovênia, pequeno país do Leste europeu com apenas 2 milhões de habitantes, está buscando integrar- se ao mundo por meio, também, da difusão de sua literatura em outras línguas e intercâmbio com autores de outros países.
A primeira antologia de poesia eslovena em português de Portugal saiu no ano passado em número especial da revista "L. S." ("Litterae Slovenicae"), publicação da Associaçãode Escritores da Eslovênia. "Nove Poetas Eslovenos Contemporâneos", em tradução de uma equipe de eslovenos, apresenta autores nascidos do fim dos anos 20 ao início dos anos 60.
De 27 de abril a 10 de maio, três dos poetas que participam dessa antologia estarão visitando o Brasil, acompanhados de dois prosadores e dois tradutores. A comissão pretende manter contato com pessoas do meio cultural e realizar leitura de seus trabalhos em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Salvador.
Organizador da turnê, o poeta Brane Mozetic, 42, comenta a seguir o cenário cultural da Eslovênia, relembra a apreensão vivida naquele país durante as úldmas guerras no Leste europeu e denuncia o processo autodestruuvo por que estão passando os eslovenos: "Em número de suicídio, acho que estamos na liderança entreasnações".

Por que o interesse em conhecer o Brasil? 0 sr. vê alguma semelhança entre Brasil e Eslovênia?
Não há tantas semelhanças entre Brasil e Eslovênia. O Brasil é um país grande, com 155 milhões de habitantes, com muitas diferenças, com história e cultura muito diferentes. A Eslovênia é pequena, apenas 2 milhões de habitantes, com uma longa, mas muito tumultuada, história —está no caminho do oeste para o leste, da Europa para a Ásia. Nossa nação, tão pequena, tornou- se independente há apenas dez anos. Antes morávamos em diferentes países.
Primeiro, por muitos anos, na monarquia austrohúngara, depois, de1918 para cá, na lugoslávia; primeiro com o rei, apósa Segunda Guerra Mundial, com o presidente Tito e a festa comunista. Estamosmais abertos agora e queremos saber mais sobre outros países, outrasculturas. Por isso vamos ao Brasil, começar uma troca, aprender mutaamente.

Os srs. conhecem alguns poetas ou escritores brasileiros?
O que pensam sobre essa produçâo?
O escritor mais conhecido aqui é, naturalmente, Paulo Coelho. Temos quatro ou cinco de suas novelas traduzidas. Ele já visitou a Eslovênia três vezes. E o mais importante é que sua última novela, "Veronika Decide Morrer", é situada na Eslovênia, na capital Liubliana. Quem quiser saber mais sobre a Eslovênia
tem que ler esse livro. Coelho diz muitas coísas sobre o país, bem como sobre nossa história e cultura —especialmente sobre nosso grandioso poeta romântico France Preseren (primeira metade do século 19). Veronika quer morrer, tenta suicidar- se: íssoé muito familiar à nossa nação.
Acho que estamos na frente das nações com o maior número de suicidas. Trata- se de um país muito autodestrutivo, com grande quantidade de suicidas e grande inddência de alcoolismo. Entre outros autores, temos três novelas de Jorge Amado e um pequeno número de poemas de Carlos Drummond de Andrade, Gilberto Mendonça Tellese Hilda Hilst Acho que também será publicada uma novela deClarice Lispector. Não sabemos de outros autores e gostaríamosde saber. Por outro lado, acho que não há traduçõesde literatura eslovena no Brasil.

O sr. poderia falar um pouco sobre as raízes culturais eslovenas e sobre o relacionamento entre a Eslovênia e outros países doLeste europeu?
Nossa nação teve seu primeiro Estado independente há 1. 400 anos, mas não por muito tempo. Do século 8° ao 20 vivemos sob o domínio dos alemães, motivo pelo qual nossa cultura é muito parecida com a deles. 0 que salvou nossa identidade, durante esse domínio, foi nossa língua e, claro, nossa literatura.
Como país católico, tivemos nossa primeira tradução da Bíblia no século 16. Poderíamos falar de Eslovênia na literatura a partir do século 18, quando escritores eslovenos entraram em contato com escritores alemães, mas escrevendo em esloveno. Por essa razão, foram muito importantes, pois a idenddade nacional permanece viva por meio da literatura, não através da polítcaou da classe superior.
Na lugoslávia, tivemos muitos contatos com outras nações e línguas dos Bálcãs. Em contrapartida, ninguém conhece a Eslovênia e a cultura eslovena porque eram algo insignificante e a força da cultura sérvia era enorme. Hoje queremos apresentar nosso país e nossa cultura. Há uma grande quantidade de pessoas que confúnde Eslovênia com Eslováquia, tambémum novo país, mas que não se situava na lugoslávia,era uma parte da Tcheco- Eslováquia.

Como está a cultura eslovena hoje, o que acontece no dia- a- dia, quais sào as principais tendências em literatura, música, teatro etc.?
A cultura eslovena sempre esteve voltada pa ra o Oeste europeu. Mesmo no tempo do "comunismo", éramos o país mais livre do Leste. Realmente, tivemos dissidências políticas, havia censura, mas não tão rigorosa. De qualquer maneira, nossa cultura etambém a literatura tiveram um papel muito importante, que foi o desalvar a identidade nacional. Depois, alguns papéis potíticos—ou a literatura refletiu idéias socialistas ou contradisseo regime comunista.
Com a democratização da sociedade, também a culturae a literatura perderam todos esses papéis.
Tomou- se menos importante, menos ideológicae mais literatura apenas. Temos exemplos de todos os grandiosos estilos modemistas, do futurismo ao surrealismo, do existencialismo ao pós- modernismo.
Hoje há uma grande quantidade de estilos; aquela poesía que o tempo todo esteve em primeiro lugar agora está em segundo, novelas passaram a ser mais publicadas, mais vendidas. 0 teatro, especialmente, é muito popular. Nossos grupos de teatro estão viajando por muitos países, também pela América do Sul. Acho que, se os brasileiros conhecem alguma coisa cultural da Eslovênia, é o teatro.

Qual a influência das guerras no Leste europeu sobre o povo esloveno?
Quando a Eslovênia se separou da lugoslávia, havia só uns dez dias de guerra, não era algo tão importante. Mas aguerra na Croácia e ultimamente na Bósnia deixou rastros, particularmente entre os croatas, bósnios e sérvios que vivem na Eslovênia (há uma grande quantidade de famílias misturadas). Por outro lado, as pessoas aqui não quiseram saber da guerra porque era tão perto e sempre estávamos apreensivos com a possibilidade de a guerra chegar à Eslovênia. Às vezes éramos como avestruzes.

Como é a poesia eslovena hoje, especialmente a da sua geraçào?
A poesia hoje é muito rica. Há verso livre, muitas vezes meditativo e não muito emocíonal. As influências são prmcipalmente da poesia norte- americana, às vezes da poesia alemã.

Na antologia "Nove Poetas Eslovenos Contemporàneos", saída recentemente em Portugal, alguns poetas escrevem sobre um pai morto, violência e angústia. É possível estabelecer alguma relação entre esse aspecto e a experiência daguerra?
Os mais importantes poetas dos últimos 50 anos são realmente muito "dark". Alguns devido à influência dos existendalismos ou pós- modernismos, outros (como Svetlana Makarovic) devido à pesquisa de canções folclóricas, as quais são muitas vezes tristes, falam sobre morte, pânico, espíritos... Parece que essa escuridão está presente no espíritonacional (tal-vez por causa dos muitos suicidas).

Sua poesia revela característica mais pessoal, inclusive erótica. Por que essa soluçâo estética?
Minha poesía é mais pessoal, sensual, às vezes erótica. Sou mais ligado às poesias francesa, italiana, espanhola e não sou tão racionalista. Prefiro figuras a pensamentos profundos. Então, escrevo uma grande quantidade de poesia de amor, algo que não é tão comum na poesia eslovena contemporânea. Gosto muito de frases simples e ritmo —na tradução, isso desaparece.

Anelito de Oliveira é escritor e editor do "Suplemento Literário de Minas Gerais".

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makarovic
flisar

mozetic
A naçao dos suicidas
blatnik-salamun
A partir da foto maior, a esq., em sentido horário, os escritoreseslovenos Brane Mozetic, Svetlana Makarovic, Andrej Blatnik e Omaz Salamun,que chegam ao Brasil nesta semana



Delo, 20. april 2000

V Salvador sem se umaknil pred poklicnimi morilci
Brane Mozetič

Center za slovensko književnost organizira med 27. aprilom in 70. majem bralno turnejo slovenskih avtorjev po Braziliji. Svetlana Makarovič, Tomaž Šalamun, Evald Flisar, Brane Mozetič in Andrej Blatnik bomo ob podpori prevajalk predstavili svoja dela v kulturnih centrih, knjigarnah in knjižnicah Ria de Janeira,Sao Paula, Belo Horizonta in Salvadorja. Na brazilski strani je k turnejinajveč pripomogel mladi brazilski pesnik Narlan Matos, ki mi je odgovorilna nekaj vprašanj.


Najprej mi povejte kaj o sebi, o svojem delu in zlasti o svoji literaturi.
Precej težko mi je govoriti o sebi, sploh najti enotno podobo sebe, saj skoraj ves čas nisem samo jaz; v meni je hkrati več Ijudi, ki skupaj mislijo, kričijo, govorijo, jokajo ali se smejijo. Kaj hočem reči: nisem oseba, temveč zgodovinski proces, ki se je začel pred 300 leti, ko je moja družina prišla iz Evrope - to je križ, ki ga moram nositi. V resnici nimam pravega nadzora nad sabo, nad svojim življenjem. Nimam prave predstave o času in prostoru; včasih se počutim in delujem, kot da bi bil v srednjem veku, romantiki ali moderni dobi. Govorim z Ijudmi, ki so umrli pred 100, 200, 300 leti, ponoči, v sanjah, v temi, z Ijudmi, ki so vselej okoli mene, mi pomagajo ali me strašijo. Oni odločajo, kakšno bo moje življenje - jaz samo čakam. In moja literatura je poslušanje njihovih glasov.
Sicer pa na univerzi študiram jezike in antropologijo. Da se lahko preživljam, tujce poučujem portugalščino, Brazilce angleščino, učim pa tudi igrati na kitaro, harmoniko, tolkala ... marsikaj.

Kakšno je literarno življenje v Salvadorju, ki je sicer malce odmaknjen od središča dogajanja, so organizirana branja, izhajajo revije? Kako ste vključeni v to?
Pravega literarnega življenja niti ni, obstajajo majhne skupine. To so še posledice kolonizacije, ki je bila predvsem agrarna. Prihajaliso bogati in nepismeni Portugalci, za sužnje pa so imeli celo izobražence,in to vseh barv. Vključen sem predvsem v literarno življenje na univerzi,kjer izdajamo literarno revijo Ave-Palavra.
Kakšen je nasploh današnji kulturni utrip Brazilije in kakšen položaj zavzema v njem literatura? Kakšna je sodobna brazilska literatura, proza in poezija?
Brazilija danes je ena sama velika zabava, kot stari Rim v najhujših časih kruha in iger. Medtem ko se ljudje zabavajo s karnevalom (v begu pred vsako družbeno in politično odgovornostjo) ter se vdajajo alkoholu in razkošju, pa naši skorumpirani kongresniki prodajajo duše, gozdove, reke, Indijance ... Nobenega prostora ni za literaturo, za "nevarne" ideje, še posebej ne za poezijo. V Braziliji je pritoževanje prepovedano, v nasprotnem primeru lahko enostavno izgineš. Taka je naša demokracija!Zato pa tudi imamo na tisoče kupljenih avtorjev, ki pišejo v skladus sistemom, in kak ducat takih, ki bi radi kaj spremenili, pa zato težkopridejo do knjig. Pravi opij je glasba, najboljši način, da ljudjekar naprej plešejo, daleč stran od resničnosti. Zato tudi imamo uspešnoin srečno deželo!

Ali mi lahko naštejete nekaj najpomembnejših avtorjev inpoveste, kakšne šole, tokovi, usmeritve so najopaznejši?
Med prozaisti bi poudaril imena Allex Leillo in Luisa Claudia Daltra, pomembnejši pesniki pa so: Waly Salomao, Arnaldo Antunes, Ruv Espinheira Pilho, Ferreira Gullar, Manuel de Barros, Jorge Araujo, Caetano Veloso. Vsak ima svoj slog in je težko govoriti o šolah, usmeritvah.

Kakšne so povezave z drugimi literaturami Južne Amerike? Kam biumestili sebe oziroma svojo poezijo?
Že zaradi jezika - v vseh drugih deželah govorijo špansko - so bile povezave z južnoameriško literaturo šibke. Mlajša generacija čuti potrebo, da bi se bolj povezala z drugimi literaturami, tako sosednjimi kot tudi bolj oddaljenimi.
Prvo pesniško zbirko sem izdal pri 21 letih pri Skladu Jorgeja Amada in doživela je precej pozitivnih kritik. Po drugi strani pa nisem v pravem družbenem sloju. Rojen sem v revnem predelu države, kjer so razlike med bogatimi in revnimi usodne, in če nisi med prvimi, so ti vse poti zaprte. Večje možnosti imaš v tujini kot v svoji deželi. Pri tem bi lahko uporabil Šalamunove besede: "Utrudil sem se podobe svojega plemena."

Kako lahko označite svojo poezijo, kaj je nanjo najbolj vplivalo?

Težko jo definiram. Morda lahko povem, da moja literatura ne prihaja iz literature. Zame so vir inspiracije knjige o fiziki, matematiki, kemiji, stare hiše, moja okolica,
velika letala, stare kopalnice, avtomobili, dvigala itd. Med njimi poskušam ustvariti dialog. Morda je pomemben tudi moj rojstni kraj, majhen kraj vdeželi Bahia. Vse matos se je začelotam. Tri generacije moje družine so živele tam in bile vseskozi zatirane.Mesto so vodili veliki farmerji, moja družina pa je bila delavska in revna.S svojim delovanjem je v mestu postavila prvo demokratično oblast, kar jetudi razlog, da še danes živi v nenehni nevarnosti. V Salvador semprišel tudi zato, da bi se rešil groženj poklicnih morilcev. Morda tudi piSem zato, da bi preživel ali da bi postal večen ...
To je povezano tudi z mojimi stalnimi boleznimi. Že kot otrok sem več časa preživel po bolnišnicah kot doma. Nikakor niso mogli ugotoviti, kaj mi je. To me je gnalo v preživetje in tudi v pisanje poezije. Če bi res hotel določiti svojo poezijo, bi rekel, da je za sodobno brazilsko literaturo tako pomembna kot Gisele Bundchen za svet mode ali Cindy Crawford za ZDA!

Kako ste odkrili Slovenijo, zakaj se zanimate za to deželo, za njeno kulturo, literaturo in zlasti poezijo?
Moj prijatelj, pesnik Kerrv Kevs, me je opozoril na pesmi Tomaža Šalamuna, prek njegovega dela pa sem prišel v stik s Slovenijo. To je bilo zame dvojno odkritje. Prej nisem nikoli slišal za Slovenijo. Šalamunova poezija pa je natanko to, kar sem iskal. Postal mi je resnični učitelj in vir inspiracije. Počasi sem spoznaval še druge avtorje, njihov način dela in nekakšno medsebojno povezanost, kar je v Braziliji izključeno. Zato sem se odločil, da kar se le da pomagam pri izmenjavi obeh kultur, prevajanju Slovencev in objavah v Braziliji. Upam, da bom nekega dne lahko prišel v Slovenijo, da bi na kraju samem odkrival njeno bogato kulturo.

Kaj si mislite o slovenski poeziji, o tej, ki jo zdaj že poznate?
Mislim, da je ena od boljših v današnjem svetu. Tolikorazličnih stilov, usmeritev. Kakovost in pestrost sta razlog, da sem se takoangažiral pri njeni predstavitvi v Braziliji. Take izmenjave so tudi priložnostza brazilsko literaturo, kije bila predolgo časa zaprla vase. Mlajšegeneracije kažejo poseben interes za tuje literature, to se je pokazalo tuditokrat. Ljudje, ki vedo za literarno turnejo slovenskih avtorjev, so navdušeni, tudi tisti, ki so že imeli možnost prebrati prevode poezije v portugalski številki Litterae slovenicae, publikacije Društva slovenskih pisateljev. Eden najpomembnejših brazilskih kritikov Wilson Buenoje za drugi največji brazilski časopis O Estado de Sao Paulo napisal obširno in vzneseno recenzijo. V največjem Folha de Sao Paulo pa je, kot veste, prav tako pomembni urednik Anelito de Oliveira objavil obširen intervju s povabljenci. Že to kaže na posebno zanimanje do slovenske literature.

Ali mislite, da Brazilci sploh kaj vedo o Sloveniji in o slovenski kulturi?
Ne, mislim, da bo to veliko odkritje za brazilske literate. Tudi o preostali Vzhodni Evropi ne vedo kaj dosti. To sem odkril med prizadevanji, da bi jim približal še druge literature: romunsko, poljsko, češko. Naš največji učitelj Jorge Amado je bil tam dobro sprejet in vselej je ohranil naklonjenost do vzhoda. Mislim, da bi z veseljem sprejel slovenske avtorje, če mu tega ne bi preprečevala huda bolezen.

Kaj pričakujete od bralne turneje slovenskih pisateljev in pesnikov poBraziliji?
Zame to ni samo bralna turneja slovenskih pesnikov in pisateljev, temveč začetek velike izmenjave, dialoga, ki bo vključeval še gledališče, ples, glasbo ... Upam, da bo imela vaša vlada tudi v prihodnje posluh za podobna gostovanja in predstavitve v tujini. Brazilska vlada žal takega razumevanja še nima, zato smo malce odmaknjeni od sveta. Jaz sem bil recimo povabljen na pesniški festival v Litvo, vendar sem zaman skušal dobiti podporo za nakup letalske vozovnice. Kot da tovrstni nastopi Brazilcev po svetu naše države ne zanimajo. Tako mi preostane samo, da prodam nekaj svojih stvari in si kupim vozovnico. Naš položaj res ni zavidljiv. Pa vendar upam, da se bodo stvari sčasoma spremenile - tudi s takimi obiski, ki bodo pomenili pritisk na naše birokrate, da spremenijo mišljenje. Tako bo tujina lahko spoznala, da nimamo samo Paula Coelha.


Folha da Bahia, Salvador, 26 de abril de 2000

pingue-pongue

Um grupo com cinco escritores eslovenos (Andrej Blatnik, Evald Flisar, TomazSalamun, Svetlana Makarovic e Brane Mozetic) estará visitando o Brasil,a partir de amanhã, e vai apresentar sua literatura á Bahianos dias 8 e 9 de maio. As performances acontecerâo na FundaçãoCasa de Jorge Amado e Academia de Letras da Bahia, ás 17h. Alémdos poetas, tradutores e atrizes também participam do evento. A coordenaçãodo grupo de escritores coube ao poeta esloveno Brane Mozetic, que pretendecriar uma aproximação com a cultura brasileira, visando intercâmbioem várias atividades artísticas, além de fazer contatoscom escritores. Poeta, ficcionista, tradutor e editor, Mozetic nasceu em 1958.Com oito tivros de poemas publicados e dois de ficçáo, eletambém já foi editor da revista Revolver, dirigida ao públicogay, e também ganhou os prêmios literáríos LijubljanaPoetry Príze e o European Poetry PriceFalgwe. Em entrevista ao Folha,via e- mail, o poeta fala sobre a verdadeíra Eslovênia (paíseuropeu com dois milhões de habitantes), a expressão do sentimentoautodestrutivo do país, a imagem que tem do Brasil, a experiênciacomo poeta e as relsções entre literatura e homossexualidade,além da expectativa sobre a viagem.
O Ocidente e muito fechado em seu amor-proprio

Marcos Dias

FOLHA- Como surgiu a idéia da turnê ao Brasil?
BRANE MOZETIC- A idéia surgiu de nossa visita à Colômbia e Venezuela, há dois anos. As pessoas estavam muito interessadas em nosso trabalho e cultura, e o conhecimento de ambos os lados era muito pouco. Há poucas traduções na Eslovênia do português e ainda menos do esloveno para o português. Assim, decidimos dar um passo para começar um intercâmbio, não apenas literário, mas tam-bém de teatro, dança e músi-ca. Conheci Narlan Mattos, de Salvador, que já conhecia al-guns poetas da Eslovênia e que, honestamente, me aju-dou muito e fez uma grande parte do trabalho. Ele também fez algumas traduções e es-pero que a gente venha a fa-zer uma parceria bilateral no futuro, assim como a apresen-tação da cultura e literatura brasileira na Eslovênia.
Mozetic F- O que a Eslovênia espe-ra de vocês?
BM- A Eslovenia, de nós? Eu não sei, essa é uma per-guntarealmente difícil. A lite-ratura não é tão importanteco-mo era antes, há cem ou 50 anos, quando era um elemen-to constitutivopara a nação es-lovena, ou mais tarde, como um tipo de revolta contra o co-munismo. Agora, o mais im-portante éo dinheiro. Você de-ve saber que vivemos atual-mente num sistema capitalis-ta, difícil em sua fase inicial.
F- E como é a Eslovêniaca-ricatural e a real?
BM- Caricatural: eslovenos são pessoas humildes e tra-balhadoras. Nos sonhos, to-dos querem ter uma vida tran-qúila, com uma boa mulher, crianças e uma casinha no campo. Para que ninguém Ihe perturbe. E ele também dese-ja ser discreto- nunca na linha de frente, jamais! Para ter sua própria pequena vidinha feliz. A Eslovênia real agora está muito confusa, nós temos raí-zes na antiga loguslávia e no antigo regime "comunista". Há uma nova onda do catolicismo e uma forma conservadora de ver a vida. Assim, de certa for-ma, o regime comunista às ve-zes era melhor e àsvezes pi-or. E a terceira coisa é a ideo-logia do novo capitalismo,com uma luta muito dura por dinhei-ro, etc, e a vida não étão fá-cil como era antes. As diferen-ças entre as pessoascrescem a cada dia. Isso também é um desafio para um povo tradicio-nalmente muito passivo e que agora deve ser mais ativo.
F- Como católicos, vocês são muito puritanos?
BM - Há muitos ateus, pessoas mais velhas, por conta do regime comunista. As mais novas são mais católicas e, àsvezes, puritanas, conservadoras. Então, você tem pais que são mais cabeça aberta e liberais do que seus filhos.
F- Como é viver num país novo de um continente veIho? Qual a questão nuclear para a sua cultura, quanto a viver numa interseção entre o Ocidente e o Oriente?
BM- Sim, é um país novo e as pessoas não sabem onde ele fica. O escritor Anelito de Oliveira me enviou alguns livros e o correio brasileiro mandou- os primeiro para Moscou (risos). Por outro lado, não há tantas diferenças assim. A Eslovênia era parte damonar-quia austríaca antes da primeira guerra, depois foi da antigalugoslávia. Estamos muito conectados com nossa área na Europae há muitas influências de toda parte, da Europa Central e dosBálcãs. Nesse sentido, não somos muito novos. Nósestamos no meio: "nem peixe, nem carne e nem ave" - e, antes,todos nos tratavam dessa maneira, e permitíamos que fosse assim porcausa do nosso caráter passivo. Às vezes, é como sea gente vivesse no fim do mundo, esquecidos e desinteressantes- ou apenasum país a se passar a caminho de um outro.
F- O filósofo Emil Cioran dizia que "a Europa atuaimente estádecrépita e que não excita ninguém". Vocêconcorda com ele?
BM- Não a Europa, mas o Ocidente. Creio que a Europa ocidental e osEUA. Mas lá também você encontra uma energia muito fortenas margens, como outras nações, pessoas negras, gays, mulheres,etc. Na Europa há muita energia nova do Oriente. O problema
é que o Ocidente é muito fechado em seu amor- próprio.
F- Qual é a imagem- se há alguma, no senso comumque vocês costumam fazer do Brasil?
BM- Acho que apenas Carnaval, dança, música e Copacabana. Egrandes diferenças entre pessoas ricas e pobres.
Sim, a Amazônia também, com sua floresta selvagem que está morrendo. E que vocês não sabem como salvar a natureza- o que é uma pena.
Andrej Blatnik, Evald Flisar, Tomaz Salamun e Svetlana Makarovic, os outros eslovenos que chegam ao Brasil, mes que vem F- Como era conciliar o trabalho como poeta e como editorda "Revolver"?
BM- Em primeiro lugar, a revista existiu por seteanos e acabou, como muitas outras coisas em nosso país- pela questâode dinheiro. É difícil ser um ativista gay e poetaporque aomesmo tempo todos vêem em você um poeta gay, e isso éinferior. Nossa literatura é principalmente feita por homens, e hápoucas muIheres escritoras. Escritor e abertamente gay na Eslovênianão há outro. Então, você pode imaginar. No Ocidenteisso também não é muito bem aceito. Nossa sociedadeé bem conservadora nesse aspecto, assim, não há muitavida gay. Segundo soube, o Brasil é muito mais aberto sobre esta questão.
F- E como a experiência homossexual é tratada em sua poesia? Você acredita que há uma escrita gay?
BM- Sim, há uma escrita gay ou literatura gay, que é feita especialmente para leitores gays e o mercado gay, mas você pode supor que não é uma literatura muito boa. Romances e poemas com temática gay poderiam ser apenas literatura, e para todos os leitores. Quanto a mim, eu nào me considero um poeta gay: sou gay e também sou um escritor que escreve a respeito disso- e isso nâo é uma escrita gay.No meu país, os gays não gostam do meu trabalho, por exemplo.Então, você pode ver a diferença.
F - Como a Eslovênia trata minorias e grupos étnicos?
BM- Legalmente,muito bem, mas na vida real há muitos preconceitos. Ninguémcuida das minorias e dos grupos étnicos. Há muito mais lutapor dinheiro e a vida que se tem que levar, ser reto, não ser diferentede nenhuma maneira e isso não é bom.
F- Você fala sobre a Eslovênia como uma nação suicida.Na sua opinião, o que leva as pessoas a se matar? Você tambémjá considerou essa possibilidade, e quando?
BM- Isso é um traço da nação há um longotempo. Acho que era igual há cem anos, talvez por conta da passividade. Há um comportamento autodestrutivo muito forte: suicídios,alcoolismo e acidentes de trânsito. Não somos violentos comas outras pessoas, a violência é dirigida contra nósmesmos. Quanto a mim, talvez tenha pensado alguma vez, mas não melembro, não foi sério.
F- O escritor Gyorgy Konrad insinua que numa outra Europa, em Saraievo eGdansk, tiveram início a primeira e segunda guerras mundiais. O que acha dessa perspectiva? Existem fantasmas que vocês ainda têm que lutar?
BM- Eu acho que os fantas-mas reais estiveram e ainda estão no Ocidente-ou onde está sua verdadeira força, em dinheiro e braços. Os lugares da chamada outra Europa fo-ram e são apenas pretextos.Assim como as principais ra-zões para a guerra na ex- lu-goslávia não estavam apenas nos Bálcans. Ou, se você pre-ferir, onde estão os verdadei-ros fantasmas pelas guerras na África?
FB- Qual a recepçâo da literatura brasileira na Eslovenia?
BM- Há algumas traduções de Jorge Amado. Mas Paulo Coelho,é realmente popular, especialmente com seu último romance, Veronika decide morrer, porque a história acontece em Liubliana, a capital da Eslovênia. E com o livro também é possível saber um pedaço da "natureza" eslovena, como a questão do suicídio.
FB- O que você acha das escrituras de Jorge Amadoe Paulo Coelho?
BM- Sou um poeta e não tenho muito interesse por romances e ficção. Conheço pouco de Jorge Amado. Quanto a Coelho, eu respeito o trabalho dele e acho que foi importante o que ele fez em seu último romance. Muitas pessoas saberão mais sobre a Eslovênia e, talvez, isso também aconteça com os correios de todo o mundo.  


Folha de Bahia, 26 de abril de 2000

Poeta baiano diz ser mais...

    Aos 11 anos, Narlan Mat-tos Teixeira escreveu sua au-tobiografia. Talvezmotivado por ecos do seu nascimento, quando diziam que ele não te-riamuito tempo de vida. En-quanto a possibilidade sem-pre adiada da morte nãoacon-tecia, o garoto subia as serras de Itaquara para ver o mun-do. Viviacomo se estivesse numa espécie de transe, des-ligado das coisas maisimedi-atas. Certa vez, a professora Stella Dubois, como se des-vendando umenigma, disse:  "Você é um poeta e tem que cuidar da sua vida".
    Aos 22 anos, em 1997, uma coletânea com poemas seus, escritos dos 13aos 22, foi um dos vencedores do Prêmio Co-pene de Literatura, como títu-lo Senhoras e senhores: o amanhecer. Atualmente, aos 24, estuda Letras na Universi-dade Federal da Bahia, faz tra-duções e corresponde- se com outros escritores, no Brasil e exterior. Conheceu,através do poeta e tradutor norte- ameri-cano Kerry Shawn Keys, umgrupo de poetas do Leste Eu-ropeu e está tendo alguns poe-mas seustraduzidos. Blazka Muller, responsável pela tradu-çãode Paulo Coelho na Eslo-vênia, é uma delas. Foi Narlan, inclusive,que articulou a vin-da dos cinco escritores eslove-nos da União dosEscritores que estarão visitando o Brasil, a partir de amanhã.
    "Minha vida de poeta come-çou com meus ancestrais", dizNarlan, a respeito de haver, se-gundo ele, uma predisposição na família para arte e inter-câmbios. Seu O poeta Narlan Matos Teixeira aticulou a vinda dos cinco escritores eslovenos ao Brasil bisavô, queera rábula, colecionava selos e se correspondia com pes-soas do mundotodo. Se-gundo ele, não há qual-quer controle na hora que umpoema surge. "Cai co-mo uma cachoeira em ci-ma de mim", descreve.
    Seguindo essa neces-sidade imperiosa, quan-do prestou vestibular fez quatropoemas durante a prova. "Mas na escola sou um aluno medíocre, porque sou desligado", julga, ao mesmo tempo que considera que a uni-versidade toma seu tem-po mais do que gostaria,
apesar de ajudá- lo em suas iniciativas. Segundo ele, "a ra-zão de ser dos poemas é avi-sar as pessoas que elas exis-tem e dar elementos para re-solver a grande equação que elas são". Mas quanto ao seu processo criativo, diz ser aju-dado com soluções poéticas nos sonhos e revela: "Quando eu morrer, alguém vai ter que escrever meus livros".
    Em sua estréia foi saudado por Ferreira Gullar e Ruy Es-pinheira Filho,que o alertou so-bre "o alto custo que nos im-põe a poesia".Daí talvez afir-mar: "Sou mais conhecido na Eslovêniaque na Bahia" ou: "É mais fácil ser publicado numarevista na Alemanha do que em certas regiões do Brasil". Considerandoa Eslovênia co-mo uma "segunda casa", ele afirma que considerariaa possibilidade de morar por lá.
    Recentemente, Narlan Mat-tos foi convidado pelo ministro da Cultura daquelepaís, Kon-nelijus Platelis, para participar do 11° Festival LiterárioInter-nacional, que acontece este ano de 8 a 10 de outubro. 0 motivo tema ver com a valori-zação que, segundo Narlan, eles dispensamaos jovens. Aqui, para ele, o tratamento é em "banho- maria".0 aclama-do poeta esloveno Tomaz Sa-lamum, por exemplo, que tam-bémparticipa da turnê brasi-leira, disse que trocaria de lu-gar com ele,"para ser um poe-ta brasileiro, jovem e no início do SéculoXXI". Mas isso é re-lativo: para a poeta, ficcionista e dramaturgapaulista Hilda Hilst, porexemplo, combina-ção "brasileiroe poeta", pode ser uma maldição. (MD)


O Globo. 27 de abril de 2000

Poesia e prosa eslovenas no Rio

Rachel Bertol

    Uma arma contra a extin-ção: assim era a poesia na pequenaEslovênia, o primeiro país da ex- Iu-goslávia a obterindependência, em 1991, que se manteve distante das guerras que arrasaramseus vizinhos e tomou- se o mais prós-pero da Europa Oriental. Umpou-co dessa poesia — e de suas transformações desdeo comunis-mo — será apresentada aos bra-sileiros hoje pela primeiravez, por cinco dos mais importantes auto-res eslovenos que cruzaram o marpara mostrar seu trabalho.
    Brane Mazetic, de 42 anos, au-tor de poemas eróticos, afirma que,dez anos após a queda do Muro, buscar reconhecimento no exterior éfundamental para os escritores eslovenos, diante de restrições comerciais cada vez maiores. Criado há um ano, o Centro para a Uteratura Eslovena tenta, segundo Brane, divulgar os autores, já conhecidosem países como EUA e Espanha. Viajar é também uma forma de arejar.
    — Antes não havia espaço para idéias de direita.0 conser-vadorismo cresceu. 0 catolicis-mo não era tão presente— diz Mazetic, porta- voz dos autores.
    Os mais traduzidos do grupo que visita o Brasil até 10 de maio —passará pela Bienal do Livro de São Paulo, por Salvador e BeloHorizon-
te — são o poeta Omaz Salamun, o maior de seu país, e o ficcionista Andrej Blatnik sobre quem o "New York Times" disse, ao comentar os contos do livro "Mudança de pele", que"revela como, após a abertura, a alienação ganhaespaço no Leste mais rapidamente que as altera-çõespolíticas e sociais".

Encontros com Gullar, Rachel de Queiroz e Paulo Coelho
   O poeta baiano Narian Matos — que traduziu parte dos textos e pre-parouum lívro para distribuição— destaca o fato demuitas ruas de Liubliana, capitál eslovena, ter no-me de poetas. Naindependência, os eslovenos trocaram os generais iugoslavos das maspelos poetas. Mas Mazetic afirma que a literatura não é a mesma,num retrato do que ocorre em outros países, como a República Tcheca, que com o fim do comunismo náo viu a volta de autores como Milan Kundera.
    — A literatura era central, nos uniu contra a dominação austro-húngara e o igualitarismo comunis-ta. Mas as tiragens caíram, as pes-soas preferem roupas, música, apa-relhos eletrõnicos — diz Mazetic.
    Além da leitura de hoje na Praia Vermelha — às 17h, naFa-culdade de Educação da UFRJ — o grupo terá encontros com Fer-reira Gullar, Rachel de Queiroz, Ivan Junqueira e Paulo Coelho, que ambientou o livro "Verõnica decide morrer" em Liubliana.


Folha de Bahia, 08 de maio de 2000

Tomaz Salamun, Svetlana Makarovic, Andrej Blatnik, Evald Flisar e Brane Mozetic: performances com participacao de duas atrizes e uma tradutora

Cinco vozes aproximam cultura eslovena

    Em turnê pelo Brasil, um grupo formado por cinco escritores eslovenosvai apresentar seus trabalhos na Bahiá, hoje, às 19h, na FundaçãoCasa de Jorge Amado, e amanhã, às 17h, na Academia de Letrasda Bahia. Com dois milhões de habitantes, o país europeu ficasituado entre Áustria, Itália, Hungria e Croácia e esteano completa dez anos de independência. Além dos escritores-poetas e ficcionistas- as performances terão a participação de duas atrizes e uma tradutora.
    A coordenação da visita do grupo de escritores coube ao poetaesloveno Brane Mozetic, que pretende criar uma aproximação com a cultura brasileira visando intercâmbioem várias atividades artísticas, além de fazer contatoscom escritores. Nas apresentações no Brasil, os textos serãolidos em português e esloveno, e também será distribuídogratuitamente o livro Cinco escritores eslovenos, com traduçõesde textos dos integrantes do grupo, além de material jornalístico.
    0 poeta baiano Narlan Mattos Teixeira, que articulou a vinda do grupo aoBrasil e fez algumas traduções de poemas eslovenos, afirmaque está tudo preparado para a chegada do grupo em Salvador. "Queremosdar transparência ao valor da literatura eslovena e vai ter acarajée licor, só vai faltar o trio", resume, entre a metáforae o sentido literal. Além de Mozetic, participam da visita Tomaz Salamun,Svetlana Makarovic, Andrej Blatnik e Evald Flisar.
    Quem é quem - Salamun, nascido em Zagreb em 1941, tem mais de 30 livrospublicados em outros países e é traduzido em muitas revistasliterárias e antologias. Em 1999, ganhou o prêmio mais importantede literatura na Eslovênia e já trabalhou como adido culturaldo seu país em Nova lorque. Svetlana Makarovic, natural de Maribor(1939), é conhecida por sua poesia e prosa para crianças etambém trabalhou como atriz. A companhia Puppet Theatre Lijubljanarealizou várias turnês com sua peça Skipmouse que, reprisadapor mais de mil vezes, disseminou seu nome em todo o mundo. É consideradauma intérprete extraordinária de sua poesia e suas apresentaçõessão descritas como inesquecíveis.
    Andrej Blatnik mora na capital da Eslovênia, Liubliana, onde nasceuem 1963 e é contista, crítico, ensaísta, tradutor eeditor. Tocava contrabaixo numa banda punk e lançou o primeiro livrocom 20 anos. Tem textos publicados em vários países, adaptados para cinema, e é considerado pela crítica como um dos escritores mais interessantes do Leste e também participa das antologias Theday Tito died (Forestbooks, 93) e Nouvelles slovenes (editions AutresTemps,96). Evald Flisar, nascido em 1945, em Gerlinci, estudou literatura comparadae já viajou por mais de 70 países. É editor- chefe darevista literária Sodobnost e autorde The history of everybody life,publicado nos EUA, onde também escreveu roteiro baseado no seu livrode maior sucesso, Aprendiz de feiticeiro, de 1986.
    Poeta e tradutor, Brane Mozetic tem nove livros de poesia, e tambémesçreve contos e romances. É editor de uma antologia de poesiahomoerótica no Século XX e de antologia de poesia eslovenacontemporânea em línguafrancesa. Foi, durante muito tempo, opersonagem principal do movimento gay no país, dirigindo revistas, organizando festivais de cinema e apresentações da literatura eslovena no exterior.


Delo, 20. maj 2000

Literarno popotovanje


Pet slovenskih pisateljev in pesnikov (Andreja Blatnika, Braneta Mozetiča, Evalda Flisarja, Tomaža Šalamuna in Svetlano Makarovič) ter tri prevajalke (Jasmino Markič, Blažko Müller, Mojco Medvedšek) je na literarni turneji po Braziliji najprej pričakalo vprašanje: Zakaj sploh to počnete? Medtem ko so nastopali po knjižnicah, sejmih, knjigarnah in v pisateljski akademiji, so si tudi na ta izziv odgovorili: Tu smo zato, da predstavimo slovensko literaturo, navežemo stike in se dogovorimo o sodelovanju.

    Center za slovensko književnost, ki je tudi letos pripravil to turnejo, jecilj popotovanja izbral namerno - predstaviti našo literaturo svetovnemujeziku, ki je še ne pozna. In ker v portugalščino doslej šeni bila prevedena niti ena slovenska knjiga, so se letos odločili za Brazilijo,v prihodnosti pa bo prav gotovo na vrsti Portugalska.
    V štirih velikih brazilskih mestih (Rio de Janeiro, Sao Paulo, BeloHorizonte in Salvador) so priredili literarna branja, ki so privabila občudujočeštevilo poslušalcev, med njimi so bili seveda tudi brazilskiliterati. Tako so se v Riu srečali s Paulom Coelhom in enim najpomembnejšihsodobnih brazilskih pesnikov Ferreirom Gudnikom brazilskega združenja Ilarjem,v Sao Paulu s predsednikom brazilskega združenja pisateljev Claudiom Vilo,medse pa so jih povabili tudi tamkaj živeči Slovenci. Številni odziviv medijih kažejo na brazilsko zanimanje za majhne dežele in kulture. TomažŠalamun je bil še posebej fasciniran nad dobro organizacijo,kar gre pripisati tudi trudu mladega brazilskega pesnika Narlana Matosa.Andrej Blatnik pa meni, da bi se imeli Slovenci pri tem marsikaj naučiti, saj dvomi, da bi prihod denimo kakega palestinskega pesnika pri nas zbudil tolikšno zanimanje, kot so ga oni v Južni Ameriki. TanjaJaklič

naša delgacija v Rio de Janeiru Naša delegacija v Rio de Janeiru - V družbi z brazilskim pesnikom Ferreiro Gullarjem (z leve) Mojca Medvedšek, Andrej Blatnik, Jasmina Markič, Blažka Müller, Ferreira Gullar, Svetlana Makarovič in TomažŠalamun.








Večer, 22.5.2000

Veronika se odloči oditi na jug
Piše: Andrej Blatnik

    "Ali poznate Slavoja Žižka?" vpraša profesorica na Zvezni univerziv Rio de Janeiru, ko je našega ustaljenega tričetrturnega bralnegaprograma konec in se prične čas za vprašanja, ki se nemalokdaj razpotegnetudi v dve uri. (Običajnih vprašanj o komunistični cenzuri v Brazilijiskorajda ni, pač pa je moral Brane Mozetič pogosto pojasnjevati pritiske,ki jih doživlja odkrito homoerotična poezija.) "Žižek je zelo smešen. Bil je pri meni doma in mi zlomil stol. So tudi drugi Slovenci tako smešni?" Vprašani se spogledamo. Hm, kaže, da slovenske podobe v Brazilijini ustvaril le Paulo Coelho s svojo samomorilsko Veroniko (eden največjihbrazilskih časopisov je naša branja napovedal z velikanskim naslovomSlovenija, dežela samomorilcev!), temveč tudi Žižek, edini Slovenec, kateregaknjige najdete v tamkajšnjih knjigarnah. (Čeprav je treba omeniti,kako je Jasmina Markič v lovu na poezijo, ki bi jo bilo nujno presaditi vslovenščino, med pregledovanjem knjigarniških zalog odkrilatudi antologijo 63 slovanskih pesnikov, v katero so bili vključeni Kajuh,Bor in Minatti!) Lahko takim pričakovanjem zadostimo kaj bolj kot tistimo samomorilcih? Smo smešni? "Ne vem, povabite nas domov, pa bomo videli."diplomatsko odvrnem.
    Takšnih in drugačnih "vabil domov" v dobesednem in prenesenem pomenuna dvotedenski turneji, ki je pet avtorjev različnih generacij in usmeritevter tri prevajalke in interpretke na branjih popeljala v največja brazilskamesta Rio, Sao Paulo, Belo Horizonte in Salvador ter manjšo Mariano,res ni manjkalo. K občutku domačnosti je pripomoglo tudi naglo spoznanje, da zanimanje za literaturo ljudi različnih civilizacij lahko krepko poveže in jim ponudi "dom proč od doma". Ko se je Tomaž Šalamun pogovarjal z največjim sodobnim brazilskim pesnikom Ferreiro Gullarjem, smo pričalisrečanju dveh velikih poetov. ki sta izšla iz istih korenin modernističnihvelikanov, čeprav sta bili njuni življenjski poti različni: v šestdesetihin kasneje je Šalamuna odneslo v ZDA, Gullarja pa v Sovjetsko zvezo.Prevajalka Mojca Medvedšek se je v leta 1810 ustanovljeni brazilskiNarodni knjižnici spoštljivo sklanjala nad rokopis Carlosa Drummondade Andradeja, velikana v portugalščini pisane poezije, katerega obsežniizbor je pred kratkim objavila v reviji Literatura. Pisatelj Evald Flisarse je kot urednik Sodobnosti z uredniki najuglednejše revije PoesiaSempre dogovoril o dvostranski pesniški izmenjavi.
    Seveda med Slovenijo in Brazilijo ne obstajajo le (redki) književni stikiin sorodnosti, temveč tudi razlike. Ko je Svetlana Makarovič eno izmed branjsklenila tako, da je svojo pesem zapela in so dvorano preplavili temni toni,s tem ni sprožila običajnega vprašanja, ki ga je najbrž že do grlasita ('zakaj vidite svet tako črno?'), temveč občudovanje navzočih mladihpesnikov in glasbenikov in njihovo priznanje, kako težko je obdržati samonikelglas v kulturi, od katere splošno pričakovanje zahteva, da se veselicazačne pri zajtrku in se nikoli ne neha. Morda so prav zato nekateri med njimi neugnanopoizvedovanje (v brezhibni portugalščini!) Blažke Müller, kjeda je kak dober forro, ples s severovzhoda države, ki je obnorel celo Brazilijo(mimogrede, bojda ga bo najti na zaključnem večeru letošnje Drugegodbe), skušali zaustaviti z zgovarjanjem. da se v njihovem mestuprav nič ne dogaja. Brazilski nacionalni stereotip je pač sproščenotelo, ki uživa v plesu na ulici, poezija je navezana na popularno glasbo,in kdor zabavo doživlja kot diktaturo nad svojo voljo, kdor se načrtno odločiizmikati telesnim užitkom, se mora nemara v Braziliji res prejkone počutitikot tujec.
    Teh štirinajst dni pa smo se kot tujci komajda utegnili počutiti mi.Čeprav nihče od nas v portugalščini (še) nima knjige in čepravsmo bili slovenski pisatelji tam prvič, so nas na vsakem od odlično obiskanihbranj sprejeli skorajda kot zvezde popularne kulture. Razdelili smo množicepodpisov, številni so se hoteli slikati z nami, nam podariti svojepesniške zbirke, plošče, nas peljati v svoje likovne ateljeje... Želja po kulturni interakciji je v Braziliji izjemna in za Slovenca, ki v skladu s tradicijo rad stisne glavo pod toplo pernico, skorajda šokantna. Navsezadnje jo je opaziti že na cestah, prispevala je k temu, da je prebivalstvo rasno krepko spremešano. V Afriki in v večini kolonialnih vladavin so se predstavniki rodu sužnjev in rodu gospodarjev držali vsaksebi, in se tako držijo še sedaj. V Braziliji so se pomešali in nastala je energetska mešanica, katere eksplozivnost občudujete na koncertnih odrih ali nogometnih igriščih. Mešanica, ki ne pozna samozadostnosti, saj ji je dragocen vsak stik s čim novim in drugačnim, pa čeprav to novoin drugačno ni ravno del medijsko zapovedane planetarne kulture - in slovenska književnost to zanesljivo (še?) ni.
    Ob odprtosti za drugačnost so za uspeh stika med slovensko in brazilsko književnokulturo najzaslužnejši sponzorji, začenši z Ministrstvom zakulturo, ki je Centru za slovensko književnost dodelilo odločilen del sredstevza odpravo, in lokalni organizatorji, od častnega konzula Slovenije v pokrajiniMinas Gerais Bogdana Šaleja in njegove energične tajnice Marie NilzeGaic Santana do mladega pesnika Narlana Matosa, ki je skrbel za obisk v Salvadorju- in nastope pravzaprav tudi spodbudil, ko se je navdušil nad poezijoTomaža Šalamuna v angleškem in španskem prevodu. Dapot iz Slovenije v Brazilijo pelje prek angleščine in španščine,je pač še eden fenomenov globalnega sveta, ki se mu lahko čudimo alipustimo vznejevoIjiti, ne smemo pa se ga prestrašiti. DrugaČe bomovselej ostali doma - in se počutili tuje.


Dnevnik, 26.5.2000

Turneja slovenskih pesnikov in pisateljev po Braziliji
    Sedemindvajsetega aprila letos se je skupina pisateljev in pesnikov (SvetlanaMakarovič, Tomaž Šalamun, Evald Flisar, Brane Mozetič in Andrej Blatnik)odpravila na literarno turnejo po Braziliji. Turneja je zastavljena kot popotovanjepo jezikovnih področjih portugalščine in Brazilija je šelenjen prvi del, ki naj bi mu sledil drugi - Portugalska. Širšiokvir projekta, izvedenega v okviru centra za slovensko književnost, je predstavitevslovenske literature v deželah, kjer z njo niso seznanjeni ali pa o njejmanj vedo. 0 tem priča odsotnost ene same knjige slovenskega pisatelja vportugalskem jeziku. So antologije, so prevodi posameznih pesmi in del, vendarprevoda knjige slovenskega avtorja v portugalščino ni.
    Pot, ki so jo vrisali na karto Brazilije, je prečkala štiri kulturnasredišča: Rio de Janeiro, Sao Paulo, Belo Horizonte in Salvador.
Literati so v vsakem mestu brali poezijo v slovenščini, tudi na željo prirediteljev, prevajalke pa so prebirale prevode pesmi in tekstov v portugalščino. Na potovanju jih je namreč poleg prevajalk Jasmine Markič, Mojce Medvešek in Blažke Müller spremljala še v portugalščino prevedena knjižica petih slovenskih avtorjev in njihovih del Cinco Autores Eslovenos.
    Postanki in branja so bili največkrat na univerzah ali fakultetah (v Riude Janeiru in v mestu Belo Horizonte), a tudi v knjižnicah, gledališčih in predvsem v prostorih pisateljskih akademij. Nekakšen prijateljski vodič po literarni karti Brazilije je bil mlad brazilski pesnik Narlan Matos. Enega najlepših sprejemov pa je potujoči skupini priredil častni konzul Republike Slovenije na konzulatu v Belu Horizontu dr. Bogdan Šulej.
    Vsi avtorji so presenečeni, da je turnejo spremljala "ogromna količina tiska",nepričakovana gneča na branjih in podpisovanje knjig. S potovanja so prineslizajeten sveženj časopisnih člankov, objavljenih v največjih brazilskih dnevnikihFolha da Bahia in Oestado de Sao Paulo ter tudi v osrednji nacionalni kulturnireviji Cult.
    Selitev slovenskih tekstov po državi, kakršna je Brazilija, ni osamljenopočetje literatov in centra za slovensko književnost, ampak je skoraj politikaslovenske literature, postavljena nasproti institucionaliziranim kulturnimcentrom nacionalnih kultur, kot sta francoski inštitut Charles Nodierin Britanski svet v Sloveniji ali pa Goethejev inštitut na Hrvaškem. Čeprav je bil takšen nomadski koncept v opoziciji sedentarnih centrov zastavljen resno in zavestno, je njegov cilj čim prej ustaliti odnose med slovenskimi in brazilskimi literarnimi institucijami oziroma, kot seje po vrnitvi izrazil Evald Flisar: "Delo se šele začenja." Naslednja postaja - Avstralija.
CIRIL OBERSTAR


CULT – maio/2000

CARAVANA ESLOVENA


        Três poetas e dois romancistas eslovenos percorrem neste mêsvárias cidades brasileiras, difundindo a voz e a letra que vêmdos Bálcãs- uma região percorrida pelos clamores dediversas guerras e conflitos étnicos que se desencadearam hádez anos, com o fim do regime comunista da lugoslávia e o esfacelamentodo mapa político do leste europeu. O arco literário desses"homens em tempos sombrios" — para usar a expressão de Hannah Arendt- se distende entre os extremos do dilaceramento coletivo e da esperança representada pela Eslovênia, pelo resgate das tradições nacionais e pelo multiculturalismo urbano da pósmodernidade.
Essa caravana literária — da qual participam os poetas Brane Mozetic, Svetlana Makarovic e Tomaz Salamun e os romancistas Evald Flisar e Andrej Blatnik - chegou ao Rio de Janeiro no último dia 27. Nesse mês de maio, eles estão em São Paulo para leituras que acontecem no dia 2, terça- feira, às 20h, na Bookshop Futuro Infinito (r. Oscar Freire, 2. 303, tels. 1173064- 5358 e 3063-2536), e no dia 3, quarta-feira, às 19h, na Bienal Internacional do Livro (Expo Center Norte, estande da Summus Editorial). No dia 4, eles desembarcam em Belo Horizonte para participar, às 17h, de um encontro na Academia Mineira de Letras (r. da Bahia, 1. 466, tel 31/225-5764).
        Em Salvador, os escritores eslovenos realizam leituras no dia 8, segunda-feira, às 17h, na Fundação Casa deJorge Amado (Largodo Pelourinho, tel. 717321-0122), e no dia 9, às l7 h, na Academiade Letras da Bahia (av. Joana Angélica, 198, tel. 717321-4308).
        Ainda na capital baiana, eles partcipam de encontros nos dias 11 e 12, às19h, na sala 8 do Instituto de Letras da UFBA (r. Barão de Geremoabo,Campus de Ondina; iníormações com Narlan Matos- um dosorganizadores da visita dos eslovenos- pelo tel. 717237 1235).
        Nos dias 15 e 16 de maio, os autores vão para Vitória, no EspíritoSanto, onde, às l7 h, fazem leituras na Associacão CulturalBrasil- Estados Unidos/Biblioteca Leonard Klein (av. Sete de Setembro); nosdias 18 e 19, eles estarão novamente na Bahia para outro encontrocom estudantes, também às l7 h, no Colégio Taylor- Egídio,de Jaguaquara (Av. Taylor- Egídio s/n, Muritiba).
        Veja a seguir um breve resumo da trajetória desses poetas e romancistas,que estarão acompanhados nos eventos por Jasmina Markic, Mojca Medvedšek,e Blacka Müller- que farão a tradução de suas intervenções.


SVETLANA MAKAROVIC
Poeta nascida em 1939, em Maribor. Graduou- se em teatro e cinema em Liublianae trabalhou como atriz e escritora free- lancer, produzindo ficçãoe poesia para jovens e crianças. Svetlana
Makarovic tem uma obra marcada pela herança das formas e imagens da poesia popular- perceptível na versificação, no caráter repetitivo e cíclico, no ritmo e na musicalidade de seus poemas esobretudo na referência a antigas tradições, personagens,lendas e narrativas mitológicas eslovenas. Svetlana Makarovic tema reputação de ser uma excelente intérprete de sua própriapoesia, promovendo recitais e representações cênicas.
makarovic
JANEIRO
Enormes são os poliedros do silêncio
em cima dos telhados mortos.
0 silêncio do ar congelado
entre as ruas inconscientes.
0 silêncio das caveiras brancas entre
(a ramagem.

Pela goteira caiu
uma mão de prata.
Endurecida, apontapara a morte.
Os pombos dormem, miúdos,
detrás de centelhantescortinas de medo.

Svetlana Makarovic
Tradução de Jasmina Markic



mozetic
BRANE MOZETIC
Poeta nascido em 1958, em Liubliana, e romancista, contista, crftico e tradutor.Formou- se em
literatura comparada pela Universidade de Liubliana e fez
pós- graduacao em Paris, onde publicou um de seus nove livros de poesia,A obsessao (1991). Tradutor de autores franceses como Rimbaud, Genet e Foucault,e editor da Revolver (primeira revista gay da Europa oriental), organizadorde uma antologia da poesia homoerotica do seculo XX, de uma antologia homoeroticana
ficcao eslovena e de uma antologia da poesia eslovena contemporanea em línguafrancesa, publicada na Franca e no Canada. A tematica do corpo em situaçoeslimítrofes, torturado e compungido, fragil e vulneravel, exposto aoestrago e as formas extremadas de entrega ao outro, e uma constante na poesiade Brane Mozetic.

EVALD FLISAR
Romancista nascido em 1945, em Gerlinci, viveu durante muito tempo no exterior,sobretudo na Australia, onde exerceu varias profissoes, e em Londres, ondefoi editor de enciclopedias. Depois de regressar ao pafs natal, estabeleceusecomo diretor de uma das mais importantes revistas literarias eslovenas efoi eleito presidente da Associacao dos Escritores da Eslovenia.
Flisar conquistou o seu publico com duas cronicas de viagens pela Africae pela Asia, publicadas nos jornais e depois reunidas em livro. 0 livro Viajanteno reino das sombras e uma antologia dos seu melhores ensaios de viagense, com o romance Ajudante cie teiticeiro (1986), que se passa na India, criouuma narrativa com uma atmosfera new age e uma espiritualidade com ecos distantesde Herman Hesse, Carlos Castaneda e Paulo Coelho.
flisar


TOMAZ SALAMUN
Poeta nascido em 1941, em Zagreb, participou de grupos de vanguarda nos anos60 e publicou mais de 30 livros que abordam as experiencias da morte, daviolencia e da guerra, rompendo de modo paródico e ironico com asformas poeticas tradicionais- o que nao o impediu
de receber os premios literarios mais importantes de seu país natal.Mestre em história da arte, trabalhou como adido cultural na Embaixadada Eslovenia em Nova Vork, mantendo intenso contato com poetas norte- americanoscomo Jorie Graham, Robert Creelev, David St. John, Robert Haas (o autor daintroducao para o livro de Salamun publicado em 1988 pela Ecco Press) e CharlesSimic (editor do seu livro de poesias publicado em 2000 pela Harcourt Brace).
salamun
ECLIPSE
Me cansei da imagem de minha aldeia
[e parti.
Com pregos longos
soldo os membros de meu novo corpo
uma capa putrida de carniça
será a capa de minha soledade.
Extraio meu olho desde o fundo do pântano
com as lâminas carcomidas do asco
levantarei minha tenda.

Meu mundo sera um mundo de bordas afiadas.
Cruel e eterno.

Tomaz Salamun
Traduçao de Narlnan Matos


blatnik
ANDREJ BLATNIK
Romancista nascido em 1963, em Liubliana, comecou como baixista de um grupode musica punk e, aos vinte anos, publicou o seu primeiro livro de contos,tornando-se o principal representante de uma nova geracao de escritores quecombinam elementos narrativos cčmicos e insólitos, registros da altacultura e da cultura popular - como no romance TAO amores (1987), que utilizaa formula da pulp fiction para ironizar as novas ideologias encarnadas pelosIíderes das seitas do leste.